O uso de tecnologia em clínicas, hospitais e centros de diagnóstico passou a ganhar mais protagonismo desde o início da pandemia da Covid-19. Esse período está servindo para testar modelos e, ao mesmo tempo, consolidar o caminho da nova economia na saúde.
A implementação da telemedicina, ampliada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), em março do ano passado, foi um passo importante para fortalecer esse processo. “A teleconsulta é um canal seguro para o paciente ter uma informação confiável sobre o seu estado de saúde. Acredito que, de fato, boa parte da população, que teve esse contato e uma boa experiência, a introduziu na sua realidade. E aí há o fortalecimento de um braço do qual a gente chama de healthtech, um novo canal de comunicação do profissional de saúde com o beneficiário final, cliente final ou paciente. Temos aqui uma fatia importante do que chamamos de transformação digital na saúde”, afirma Luciane Infanti, sócia-líder da EY Parthenon.
A digitalização da medicina não se restringe ao atendimento on-line. É apenas uma porta de acesso. Heathtech consiste em uma nova forma de atuação da medicina, aplicando abordagens e ferramentas digitais em seus processos. De acordo com Luciane Infanti, houve outros movimentos importantes adotados no Brasil durante a pandemia. Um deles foi o amadurecimento do conceito do empoderamento dos dados do paciente que agora pertencem a ele. Um exemplo é o ConecteSus, que inclui a carteirinha de vacinação desse paciente.
“Para quem ainda não tinha, foi um movimento importante. É simples, mas emblemático. Começamos a ter acesso à nossa informação assistencial, vacina ou resultado de um teste de PCR (teste de Covid-19). Alguns podem dizer que muitos sites de laboratórios, por exemplo, guardam as informações do paciente. Mas trata-se de uma condição legal chamada fiel depositário. O ConecetSus é diferente porque podemos carregar um modelo de wallet (carteira virtual) no celular. O indivíduo é o único proprietário dos seus dados e isso pode trazer uma revolução que a gente ainda não consegue enxergar”, explica Luciane Infanti, acrescentando que, além do Sistema Único de Saúde (SUS), outras plataformas digitais também oferecem esse acesso de forma gratuita.
Outro movimento identificado nos últimos 18 meses foi a continuidade do cuidado ao paciente. Se a telemedicina teve um papel de abrir uma nova porta de acesso qualificado, houve também o fortalecimento de várias healthtechs no pós-atendimento. “É o acompanhamento do paciente quando ele sai do momento mágico do contato físico ou digital com o médico. Há um universo de healthtechs. Um paciente internado que tem alta, por exemplo. O médico pode fazer um atendimento 6h, 12h ou no máximo 24h depois com um instrumento de telemedicina, ligação ou SMS”, diz ela. “Isso derruba as barreiras dos hospitais e dos consultórios e dá essa continuidade de cuidado. Isso é muito importante porque temos por base conceitual, social e histórica de que nosso tratamento se finda quando saímos do consultório ou do hospital, mas ele continua sob o efeito do que o evento sucedeu do nosso corpo em relação à nossa saúde.”
FIGITAL
Luciane Infanti destaca ainda dois blocos que se fortaleceram neste período de pandemia: o figital (integração de ambientes físico e digital, que originou o termo Phygital, abrasileirado para Figital) e as biotechs (tecnologia baseada nas ciências biológicas).
“O paciente faz uma consulta por telemedicina. O médico pede exames que são feitos pessoalmente e o retorno pode também ser de forma digital. Essa é uma experiência figital. No universo da biotechs, há o desenvolvimento de medicamentos inteligentes, com uma agenda medicamentosa desse universo das techs, medicamentos personalizados e uma medicina de precisão”, conclui.
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