Novos estudos, destacados na revista The Lancet, trazem esperança para o tratamento da surdez através da terapia gênica. Embora os resultados sejam promissores, especialistas alertam que essa abordagem atualmente se aplica apenas a um tipo específico de surdez e ainda não está disponível no Brasil.
A pesquisa recente, amplamente divulgada pela revista Science, revelou progressos significativos na recuperação parcial da audição em crianças com mutações genéticas que as deixaram surdas. Especificamente, o tratamento demonstrou eficácia em casos de surdez relacionados à mutação no gene OTOF, responsável pela produção da proteína otoferlina.
O professor Victor Evangelista de Faria Ferraz, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, explica que a otoferlina desempenha um papel crucial na condução do sinal elétrico do ouvido para o cérebro, sendo essencial para a função auditiva.
Embora os resultados sejam promissores, os estudos ainda estão em estágio inicial e enfrentam desafios técnicos, como a entrega eficaz do gene OTOF por meio de vetores virais. O professor Carlos Frederico Martins Menck, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, destaca que, embora o tratamento seja temporário, há potencial para sua expansão futura.
No entanto, a aplicação prática dessa terapia gênica no Brasil enfrenta obstáculos, desde a aprovação regulatória até a disponibilidade nos serviços de saúde pública. O professor Miguel Angelo Hyppolito, da FMRP-USP, ressalta a necessidade de atualização das políticas de saúde auditiva para garantir acesso a tratamentos inovadores como a terapia gênica.
Embora a terapia gênica represente uma esperança para muitos pacientes com surdez, sua implementação efetiva requer não apenas avanços científicos, mas também políticas de saúde pública abrangentes e acessíveis a todos os brasileiros que necessitam desse tipo de tratamento inovador.
Via: USP